Em meio à correria da vida moderna, algumas profissões resistem ao tempo e seguem firmes nos bairros históricos de Natal. É o caso do relojoeiro Orlando Paulo de Oliveira, que há mais de 50 anos mantém sua pequena oficina no bairro Cidade Alta. Entre ponteiros parados, lupas e ferramentas minúsculas, ele conserta relógios com dedicação e paixão, em um ambiente que mais parece um museu da história potiguar.
Orlando começou na profissão aos 27 anos, após formação técnica no SENAI de Pernambuco e no Instituto Universal Brasileiro. Mesmo tendo recebido propostas de trabalho em Recife, decidiu voltar para Natal e empreender por conta própria. Já teve equipe numerosa, mas hoje trabalha sozinho, movido pelo amor à profissão. “Hoje continuo nessa profissão porque amo o que faço”, diz, cercado por amigos e clientes fiéis que fazem da oficina um ponto de encontro.
A tradição também é mantida na Ribeira, onde o sapateiro Ricardo Cavalcante segue os passos do pai e ensina o ofício ao próprio filho. “Ensino para ele ficar na arte também, porque o meu pai se foi e eu fiquei”, diz. Mesmo reconhecendo que os modelos mudaram e nem todos os reparos são possíveis, Ricardo continua firme no propósito de preservar o legado familiar.
Essas histórias mostram que, mesmo diante das mudanças nos hábitos de consumo, profissões como a de costureira, alfaiate, sapateiro e relojoeiro seguem desempenhando papel importante na vida cotidiana e no tecido social dos bairros de Natal. Para o sociólogo Cesar Sanson, da UFRN, “o trabalho é central na vida das pessoas” e muitas vezes representa realização pessoal. Já a antropóloga Andressa Morais destaca a importância social dessas ocupações: “são relações marcadas pela confiança e respeito comunitário”.
Em tempos de transições digitais e descartabilidade, essas profissões mostram que tradição, cuidado e histórias ainda têm seu lugar. E resistem.
Via Tribuna do Norte