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VERGONHA DE SER HONESTO – Por José Adalberto Targino Araújo

VERGONHA  DE SER HONESTO –   

Às vezes, nos poucos momentos de lazer de que disponho, fico divagando e perguntando a mim mesmo: por que quase sempre a mentira e o embuste vencem a verdade e a Lei? Por que os homens sérios, honrados e trabalhadores, que acreditam na Justiça e no reconhecimento do seu valor, são mais facilmente “passados para trás” pela maldade e ganância dos inescrupulosos que, conscientes de seu raquitismo intelectual e de suas amoralidades, apelam para as armas mais escusas, diabólicas e mesquinhas, importando-lhes apenas as suas sórdidas ambições?

Os reais objetivos colimados pela maioria dos cidadãos de hoje, palpavelmente demonstrados nas escolas, nas universidades, nas repartições públicas e até mesmo nas igrejas, não são mais a concretização de nobres horizontes, nem a busca sacerdotal e paciente de um ideal: mas apenas se vêem, infelizmente, teleguiados que visam a apenas a ganhar mais, acumular riquezas, mesmo que para isso tenham que se utilizar de perseguições injustas, calúnias e difamações contra homens honrados para destes assaltarem os seus cargos, os seus bens e até mesmo o seu mais precioso e inestimável patrimônio: a dignidade e a boa fama.

Ser correto nos dias de hoje, onde o maquiavelismo é a lei fundamental, é tarefa para herói ou para louco; pois, na luta terrível travada entre o bem e o mal, se o bem não é destruído, pelo menos é pisoteado, abalado e ferido pelas infernais labaredas das “línguas soltas” dos que  professam os dogmas da injúria e trilham os caminhos tortuosos da difamação.

Já  ouvi das palavras simples, porém experimentadas, do meu velho genitor que, na vida, o homem só comete dos grandes pecados: o pecado de cair e o de subir, pois de ambos podem surgir os mais indignos sentimentos, que são os de escárnio e o da inveja. O escarnecimento surge quando, por capricho da sorte ou por lei do destino,  sucumbe na vida: os da inveja, quando os fracassados e medíocres vêem alguém galgar posições na escalada social.

E o mais triste, é se perceber que essas aves de rapinas, essas hienas espectadoras do destino alheio, nascem exatamente no meio de pessoas íntimas e amigas, confirmando, assim as sábias e oportunas palavras do imortal vate paraibano, Augusto dos Anjos: “ a mão que afaga é a mesma que apedreja… a boca que beija é a mesma que escarra”. Em outras palavras: é dos amigos, e não dos inimigos que nascem os traidores.

Nessa velha escola da existência, as filosofias apenas se aperfeiçoam, se aprimoram e se lapidam, porém, a sua essência continua sempre a mesma, notadamente no dizer do saudoso Thomas Hobbes, autor do clássico “O Leviatã”, que alertava: “ O homem é lobo do homem”. Na sua trilha profetizava o prefalado vate tabajara: “ quem vive entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.

Outrora, as pessoas se digladiavam, mais por motivo de honra, uma honra bárbara e ingênua; hoje os indivíduos  destróem a si mesmo e ao seu próximo na busca suicida e vã de objetivos materiais, enriquecendo-se com tesouros e fugindo das delícias invisíveis do espírito e das primícias imensuráveis da sã consciência.Tornam-se, desse modo, autênticos túmulos caiados, depositários de podridões morais as mais vis e indesejáveis.

O Brasil, que o diga, quando num passado administrativo “colorido”, não muito recente, a lascívia, a corrupção, o despudor com o uso e abuso do erário, passaram a ser virtudes raras e ornamentos curriculares de certos “homens públicos”. O maquiavelismo, a malandragem política, o jogo de cintura, eram a tônica geral; enquanto a probidade,  ingenuidade; o zelo com os bens públicos,  burocratização; o sábio tragado pelo sabido; a intelectualidade, pisoteada pela esperteza.

Enfim, os fins sempre justificando os meios, mesmo que para isso implicasse em dilapidar a coisa publica ou perseguir covardemente os afoitos que apontassem o mar de lama, capaz de fazer corar os mandarins da máfia siciliana ou novaiorquina.

Nessa página negra brasileira, nunca foram, tão atuais e tão verdadeiras as sábias palavras do inefável Rui Barbosa, a “Águia de Haia”, quando já aquela época, sentindo os passos nefastos da corrupção, disse, em discurso inflamado no Senado Federal:  “de tanto ver se agigantar o poder nas mãos dos maus, de tanto ver a maldade suplantar a virtude e a mediocridade reinar sobre a inteligência, o homem sente vergonha de ser honesto e de cultivar a razão”.

                                            

Matéria publicada em 05/08/2019 José Adalberto Targino Araújo – é Procurador do Estado, ex- Presidente da Academia de Letras Jurídicas/RN e membro do Instituto dos Advogados Brasileiros/RJ.

 

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